sexta-feira, 14 de julho de 2017

E. E. Cummings: Mergulha nos sonhos

mergulha nos sonhos 
ou um lema pode ser teu aluimento
(as árvores são as suas raízes
e o vento é o vento)

confia no teu coração
se os mares se incendeiam
(e vive pelo amor
embora as estrelas para trás andem)

honra o passado
mas acolhe o futuro
(e esgota no bailado
deste casamento a tua morte)

não te importes com o mundo
com quem faz a paz e a guerra
(pois deus gosta de raparigas
e do amanhã e da terra)

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"
Tradução de Cecília Rego Pinheiro 

E. E. Cummings: Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso



que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"
Tradução de Cecília Rego Pinheiro 

segunda-feira, 10 de julho de 2017

A companheira do cesteiro


Amava-te. Amava o teu rosto de nascente sulcado pela tempestade e o emblema do teu domínio cingindo o meu beijo. Há quem se entregue a uma imaginação completamente redonda. A mim basta-me ir. Do desespero, meu amor, trouxe o cestinho mais pequeno que se pôde entrelaçar em vime.

René Char. Furor e mistério. Lisboa: Relógio D’água, 2000.

(Tradução de Margarida Vale do Gato).